Soft starter motor reduz picos e custos em instalações elétricas

O uso de soft starter motor em instalações elétricas é estratégia técnica essencial para reduzir esforços mecânicos e elétricos durante partidas de motores de indução, mitigando riscos de quedas de tensão, picos de corrente e falhas prematuras em máquinas e alimentadores. Este manual aborda, com base nas melhores práticas de engenharia e nas normas brasileiras, os princípios, critérios de seleção, procedimentos de instalação, comissionamento, segurança e manutenção — com ênfase na conformidade com NBR 5410, NBR 14039 e NR-10, incluindo recomendações práticas para ART e implantação em ambientes residenciais, prediais e industriais.

Fundamentos e princípios de funcionamento

Princípio elétrico e efeitos sobre o motor

O soft starter atua reduzindo a tensão aplicada ao motor durante a rampa de partida, geralmente por meio de controle por tiristores (fase controlada), o que limita a corrente de partida e regula o torque produzido. Para motores de indução, a relação entre tensão e torque segue aproximadamente T ∝ (V/Vn)² para regimes de baixa escorregamento; portanto, redução de tensão reduz significativamente o torque disponível, fator crítico para cargas com elevada resistência inicial. O equipamento permite parametrização de rampa de aceleração, tempo de rampa, limitação de corrente e proteção contra sobrecorrente durante a partida.

Comportamento frente a inrush current, torque e aquecimento

Ao limitar a corrente de partida, o soft starter reduz quedas de tensão na rede e esforços mecânicos no acionamento. Entretanto, a energia dissipada internamente (heatsinks, tiristores) e o aquecimento do motor durante partidas longas exigem avaliação térmica e dimensionamento adequado. Partidas frequentes e prolongadas podem elevar a temperatura do motor acima do aceitável — necessitando limites de número de partidas/hora e tempo de resfriamento, de acordo com o fabricante do motor e critérios de projeto.

Comparação com outros métodos de partida

Comparado à partida direta (DOL), estrela-triângulo e autotransformador, o soft starter oferece melhor controle de rampa e menor impacto de corrente. Frente ao inversor de frequência ( VFD), o soft starter é menos flexível (não controla velocidade) mas apresenta menor complexidade de harmônicos e custo inicial reduzido para aplicações que apenas exigem partida suave. Escolha entre tecnologias deve considerar exigências de torque no arranque, controle de velocidade, qualidade de energia e investimento total.

Normas, responsabilidades técnicas e requisitos normativos

Aplicabilidade das normas brasileiras

As instalações devem seguir estritamente a NBR 5410 (instalações elétricas de baixa tensão) para dimensionamento, proteção e aterramento; a NBR 14039 quando a aplicação envolver média tensão, inclusive cuidados com equipamentos eletrônicos de partida em níveis acima de 1 kV; e a NR-10 para segurança e trabalho em instalações elétricas. Devem ainda ser observadas normas complementares (ex.: NBR IEC/EN aplicáveis a equipamentos eletrônicos, normas de DPS e compatibilidade eletromagnética).

Responsabilidade técnica e documentação

A implantação de soft starter exige ART vinculada ao projeto e à execução, registro no CREA e elaboração de documentação técnica: memória de cálculo, diagrama unifilar, detalhamento de comandos, planilha de coordenação de proteção, procedimentos de comissionamento e laudo de ensaios. Projetos em média tensão devem incluir avaliação de compatibilidade com sistemas de proteção existentes e coordenação com concessionária quando aplicável.

Proteções e dispositivos complementares (DR/DPS)

Embora o emprego de DR seja tipicamente associado a circuitos de tomadas e circuitos de consumo, a NBR 5410 orienta a aplicação adequada de dispositivos diferenciais residuais onde há risco à vida. Em painéis de força, recomenda-se avaliar a necessidade de proteção diferencial e coordenação com proteção de motores. A instalação de DPS no quadro principal, conforme norma específica para proteção contra surtos, é recomendada para preservar a eletrônica do soft starter e evitar falhas por transientes.

Tipos de soft starter e componentes principais

Soft starter por tiristores (fase controlada)

Equipamentos de tiristores (SCR) são os mais comuns. Controlam a tensão por ângulo de condução em cada fase, permitindo rampas ajustáveis de tensão. Componentes críticos: tiristores em antiparalelo, snubbers, dissipadores térmicos, circuito de controle lógico, entradas digitais/analógicas, relés de bypass. São indicados para aplicações de baixa e média potência, com cuidado no dimensionamento térmico e na necessidade de bypass para operação eficiente em regime permanente.

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Soft starter por autotransformador e métodos clássicos

Métodos por autotransformador reduzem tensão de forma passiva durante a partida; são menos comuns atualmente pela maior massa e custo. Ainda têm aplicação em regimes industriais específicos, mas exigem contatores e proteções mecânicas adicionais, além de perda de eficiência durante a partida.

Bypass, contatores e dispositivos de proteção internos

Soft starters modernos normalmente incorporam um contator de bypass (ou relé de bypass) para isolar os tiristores após a partida e evitar dissipação térmica desnecessária. Proteções internas típicas: proteção contra sobrecorrente, subtensão/sobretensão, sobretemperatura, curto-circuito interno e detecção de perda de fase. É fundamental que o projeto do quadro considere espaço para dissipação e acesso para manutenção dos dissipadores e ventiladores.

Entradas e instrumentação: CTs, RTDs e comunicações

Recursos importantes: entrada de CT para limitação precisa de corrente e monitoramento, entradas de PT100/RTD para monitoramento da temperatura do motor, I/Os digitais para integração com CLPs, relés de saída para alarmes e interfaces seriais (MODBUS, Ethernet/IP) para supervisão. Critério: escolher equipamentos com isolação adequada e filtros para rejeitar ruídos de rede.

Projeto e dimensionamento para instalações elétricas

Dimensionamento do soft starter e critérios de seleção

Dimensionar o soft starter com base na corrente nominal do motor (In) e na corrente de partida que se pretende limitar. Parâmetros críticos: corrente contínua admissível dos tiristores (Ith), corrente máxima do pico (Ipk), capacidade de curto tempo de sobrecorrente, classe térmica e necessidade de bypass. Recomenda-se dimensionar para 100–120% da corrente nominal do motor quando aplicável e confirmar curvas do fabricante quanto a número de partidas permitidas por hora e tempo máximo de partida contínua.

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Cálculo de correntes de partida e torque disponível

Usar tabela do motor para valor de corrente de rotor bloqueado (ILR ≈ 6–8 × In) e estimar corrente de partida desejada (Istart). Ajustar rampa de tensão de modo que torque gerado supra a resistência estática da carga. Procedimento: verificar se Tstart (aproximado por (Vstart/Vn)² × Tnom) é suficiente; caso contrário, considerar arrancadores com torque assistido ou VFD.

Dimensionamento de condutores e dispositivos de proteção

Dimensionar cabos segundo NBR 5410: considerar corrente admissível, queda de tensão máxima, curto-circuito e temperatura ambiente. Como o soft starter reduz a corrente de partida, pode permitir redução de seção de alimentação em projetos novos, mas atenção à energia dissipada no starter e à corrente térmica durante partidas repetidas. Selecionar disjuntores e fusíveis com curva adequada (classe de disparo), coordenação com relés térmicos ou eletrônicos de sobrecarga do motor, e garantir seletividade com proteções a montante.

Coordenação de proteção e seletividade

Elaborar a planilha de coordenação de proteção com curvas I x t de disjuntores, fusíveis e relés, garantindo seletividade e proteção contra falhas. Ajustar limiares de disparo do soft starter para não conflitar com proteção principal do alimentador. Em média tensão, considerar a coordenação entre proteções primárias e secundárias, utilizando curvas normalizadas e análise de let-through energy.

Aterramento, proteção contra falhas e compatibilidade com DR/ DPS

Garantir continuidade e baixa resistência do condutor de proteção (PE) conforme NBR 5410. Instalar DPS na entrada do quadro e, quando necessário, pontos adicionais a montante das entradas sensíveis do soft starter. Avaliar aplicação de proteção diferencial em circuitos críticos segundo avaliação de risco. Realizar medição de resistência de aterramento e monitoramento quando há requisitos de continuidade para segurança conforme NR-10.

Fator de potência e balanceamento de cargas

Partidas suaves alteram temporariamente o fator de potência da instalação; entretanto, o impacto é pontual. Projetar compensação do fator de potência considerando cargas permanentes (bancos de capacitores quando aplicáveis). Importante: não conectar bancos de capacitores diretamente na saída do soft starter; capacitores devem estar a montante e com coordenação para evitar ressonância e sobretensões.

Instalação e ensaios de comissionamento

Procedimentos de instalação elétrica

Seguir o diagrama unifilar aprovado na ART. Posicionar o soft starter em painel com ventilação natural ou forçada conforme especificação do fabricante; respeitar distâncias de afastamento para dissipação. Conectar condutores de força (L1,L2,L3) e saídas motor (T1,T2,T3) obedecendo às torqueações dos bornes. Instalar contator de bypass com intertravamento elétrico e mecânico para evitar circulação de corrente pelos tiristores em operação contínua.

Ensaios pré-operacionais (medição e verificação)

Antes da energização, realizar: medição de resistência de isolamento (megômetro) entre fases e terra; medição de continuidade do condutor de proteção; verificação de sequência de fases; inspeção visual de conexões e fixações; verificação de tensão de controle; checagem de posições de jumpers e parâmetros padrão. Registrar resultados em relatório, com assinatura do responsável técnico e anexar à ART.

Testes de partida, ajustes e validação funcional

Com motor desconectado, executar autoteste do equipamento. Em seguida, com motor acoplado, realizar partidas sob carga reduzida inicialmente, ajustando rampa de aceleração, limitação de corrente, tempo de bypass e parâmetros de proteção. Registrar curvas de corrente de partida, tempo de aceleração e temperatura do dissipador. Validar alarmes e relés configurados. Testar cenários de falha (perda de fase, sobrecorrente, subtensão) e verificar ação das proteções.

Registro técnico e ART

Emitir relatório completo de comissionamento, incluindo parâmetros finais programados, valores medidos e recomendações operacionais. Registrar tudo na ART ou em documento técnico equivalente, garantindo rastreabilidade e conformidade com a legislação do CREA.

Segurança operacional e manutenção

Requisitos segundo NR-10 e práticas de bloqueio e sinalização

Aplicar NR-10 para todas as intervenções: autorização para trabalho, orientação sobre uso de EPIs (luvas isolantes, lentes, calçados), sistema de bloqueio e tag (LOTO), e efetuar aterramento temporário quando necessário. Não realizar intervenções com alimentação presente; trabalhar com tensão zero verificada com instrumento calibrado.

Manutenção preventiva: escopo e periodicidade

Manutenção deve incluir limpeza de dissipadores e ventiladores (se aplicável) trimestral a semestralmente, inspeção de bornes e torqueação anual, verificação de firmware e logs de falhas semestral, teste funcional periódico e verificação das condições dos cabos de potência. Em ambientes agressivos (poeira, umidade) reduzir intervalos. Registrar plano de manutenção preventiva no manual do equipamento e na documentação do ativo.

Diagnóstico de falhas e soluções práticas

Sinais comuns: superaquecimento do dissipador (verificar bypass e ciclo de trabalho), falhas de tiristores (necessidade de substituição de módulos), disparos por sobrecorrente durante rampa (ajuste de limiar de corrente ou reduzir torque requerido), comportamento intermitente por ruído (instalar filtros EMC e revisar aterramento). Em caso de falha repetitiva, coletar logs, perfil de corrente e tensão e correlacionar com condições de carga.

Procedimentos para substituição e atualização

Ao substituir soft starter, garantir compatibilidade com conexões e espaço do painel, atualizar diagramas unifilares, ajustar parâmetros iniciais e efetuar comissionamento completo. Considerar atualização de comunicações (protocolos abertos como MODBUS) e integração com sistemas de manutenção preditiva.

Modernização, retrofit e integração com sistemas existentes

Critérios para modernização

Avaliar modernização quando: falhas recorrentes, necessidade de reduzir consumo energético associado a partidas frequentes, integração com supervisão ou quando a substituição de componentes obsoletos representar risco de segurança. Realizar levantamento das condições do motor, capacidade do alimentador, histórico de partidas e análise de retorno sobre investimento (ROI).

Integração com automação e telemetria

Projetar a integração considerando entradas/saídas digitais e analógicas, protocolos de rede e necessidades de segurança cibernética. Parametrizar alarmes remotos, logging de eventos e telemetria para manutenção preditiva. Garantir isolamento elétrico e proteção contra surtos nas interfaces de comunicação.

Impactos na eficiência energética e custos operacionais

Embora o soft starter não controle velocidade, a redução de esforços mecânicos prolonga vida útil do ativo e reduz paradas não planejadas. Em aplicações com partidas muito frequentes ou necessidade de variação de velocidade, avaliar substituição por VFD que pode proporcionar maior economia energética em regime variável.

Requisitos para média tensão e considerações especiais

Em média tensão, aplicar a NBR 14039: equipamentos de partida devem ser projetados para isolamento adequado, proteção contra sobretensão e ensaios de conformidade. Soft starters em MT exigem projetos específicos envolvendo transformadores de potência, seccionamento, aterramento de neutro e proteção por relés de média tensão adequados. Coordenação com concessionária pode ser exigida para arranjos que afetam a qualidade da energia.

Resumo técnico e recomendações de implementação

Resumo técnico:

    O soft starter reduz correntes de partida e choques mecânicos, melhorando a confiabilidade e reduzindo impactos na rede. Dimensionamento deve considerar corrente nominal do motor, corrente de bloqueio, capacidade térmica do starter, necessidade de bypass e limites de partidas/hora. Projeto deve seguir NBR 5410, NBR 14039 (quando aplicável) e NR-10, com ART e documentação técnica completa. Proteções complementares (disjuntores, fusíveis, relés) devem ser coordenadas para seletividade e proteção do starter e do motor. Instalação exige cuidados com aterramento, DPS, filtros EMC e isolamento entre sinais de comando e potência.

Recomendações de implementação práticas:

    Realizar levantamento prévio: curva de torque da carga, número de partidas/hora, tempo de partida aceitável e histórico de falhas. Selecionar soft starter com capacidade de corrente adequada (Ith, Ipk) e com opções de bypass e comunicações para supervisão. Preparar diagrama unifilar completo e planilha de coordenação de proteção; emitir ART para projeto e execução. Garantir aterramento da carcaça e continuidade do condutor de proteção; instalar DPS na entrada do quadro e avaliar uso de DR conforme risco e NBR 5410. Programar parâmetros iniciais em bancada: tempo de rampa, limitação de corrente, níveis de disparo e verificação de intertravamentos com bypass. Executar ensaios: resistência de isolamento, verificação de sequência de fases, corrente de partida medida e termografia após primeiras partidas. Estabelecer rotina de manutenção preventiva documentada (limpeza, torqueação, verificação de ventilação e logs) e políticas de substituição de peças críticas. Registrar e archivar relatórios de comissionamento, instruções de operação e ART, assegurando conformidade com CREA e auditorias regulatórias. Em retrofit, avaliar potencial ganho com VFD quando houver necessidade de controle de velocidade, eficiência energética e redução adicional de desgastes. Formar equipes com treinamento conforme NR-10, providenciar EPC e EPCo necessários e adotar procedimentos de LOTO para intervenções.

Implementar soft starter motor exige abordagem técnica integrada: engenharia de proteção, dimensionamento térmico, planejamento de manutenção e supervisão normativa. A observância das normas brasileiras e a formalização por meio de ART e documentação técnica garantem segurança, conformidade legal e maior vida útil dos equipamentos, reduzindo riscos elétricos e operacionais nas instalações residenciais, prediais e industriais.